Total de visualizações de página

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

2011 - O ano em que um livro desmascarou a Imprensa





"Se a Gazeta Esportiva não deu, ninguém sabe o que aconteceu".

(Slogan de um antigo jornal de São Paulo, nos tempos pré-internet, que ainda inspira muitos jornalistas brasileiros).

***

Daqui a cem anos, quando os historiadores do futuro contarem a história da velha mídia brasileira, certamente vão reservar um capítulo especial para o que aconteceu em 2011.

Foi o ano em que um livro desmascarou o que ainda restava de importância e influência da chamada grande imprensa na formação da opinião pública brasileira.

O suicídio coletivo foi provocado pelo lançamento de um livro polêmico, A Privataria Tucana, do premiado repórter Amaury Ribeiro Júnior, com denúncias sobre o destino dado a bilhões de reais na época do processo de privatização promovido nos anos FHC.

Como envolve personagens do alto tucanato em nebulosas viagens de dinheiro pelo mundo, o livro foi primeiro ignorado pelos principais veículos do país, com exceção da revista "Carta Capital" e dos telejornais da Rede Record.

Nos dias seguintes, os poucos que se atreveram a tocar no assunto se limitaram a detonar o livro e o seu autor. Sem entrar no mérito da obra, o fato é que, em poucos dias, A Privataria Tucana alcançou o topo dos livros mais vendidos do país e invadiu as redes sociais, tornando-se tema dominante nas rodas de conversa do Brasil que tem acesso à internet. .

No final de semana, o fenomeno editorial apareceu nas listas de jornais e revistas, mas não mereceu qualquer resenha ou reportagem sobre o seu conteúdo.

Em 47 anos de trabalho nas principais redações da imprensa brasileira, com exceção da revista "Veja", nunca tinha visto nada igual, nem mesmo na época da ditadura militar, quando a gente não era proibido de escrever, apenas os censores não deixavam publicar.

Foi como se todos houvessem combinado que o livro simplesmente não existiria. Esqueceram-se que há alguns anos o mundo foi revolucionado por um negócio chamado internet, em que todos nos tornamos emissores e receptores de informações, tornando-se impossível esconder qualquer notícia.

O que mais me espantou foi o silêncio dos principais colunistas e blogueiros do país _ falo dos profissionais considerados sérios _, muitos deles meus amigos e mestres no ofício, que sempre preservaram sua independência, mesmo quando discordavam da posição editorial da empresa onde estão trabalhando. Nenhum deles ousou escrever, nem bem nem mal, sobre A Privataria Tucana, com a honrosa exceção de José Simão.

Alguns ainda tentaram dar alguma desculpa esfarrapada, como falta de tempo para ler e investigar os documentos publicados no livro, mas a grande maioria simplesmente saiu por aí assobiando e mudando de assunto.

O que aconteceu? Faz algum tempo, as entidades representativas da velha mídia criaram o Instituto Millenium, uma instituição voltada à defesa dos seus interesses e negócios, o que é muito justo.

Sob a bandeira da "defesa da liberdade de expressão", segundo eles sempre ameaçada por malfeitores do PT e de setores do governo federal, os barões da mídia promoveram vários saraus para denunciar os perigos que enfrentavam. O principal deles, claro, era "a volta da censura".

Pois a censura voltou a imperar escandalosamente na semana passada, só que, desta vez, não promovida por orgãos do Estado, mas pelas próprias empresas jornalísticas abrigadas no Millenium, que decidiram apagar do mapa, não uma reportagem ou uma foto, mas um livro.

O episódio certamente será um divisor de águas no relacionamento entre a grande imprensa e seus clientes. Por mais que cada vez menos gente acreditasse nessa conversa, seus porta-vozes sempre insistiam em garantir que a mídia grande era independente, apartidária, isenta, preocupada apenas em contar o que está acontecendo e denunciar os malfeitos do governo, em defesa do interesse nacional e da felicidade de todos.

Agora, caiu definitivamente a máscara. Neste final de semana, ouvi de várias pessoas, em diferentes ambientes, que vão cancelar assinaturas de publicações em que não confiam mais.

Como jornalista ainda apaixonado pela profissão, fico triste com tudo isso, mas não posso brigar com os fatos. Foi vergonhoso ver o que aconteceu e não deu para esconder. Graças à internet, todo mundo ficou sabendo.

E agora? O que vão dizer aos seus ouvintes, leitores e telespectadores?



Ricardo Kotscho

sábado, 17 de dezembro de 2011

Vergonha Alheia


18/12/11

Não Esqueça o Saco de Vômito

por André Lux


Estou na página 172 do livro "A Privataria Tucana". Olha, o que o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr. relata até agora, com farta documentação, é de arrepiar. Mostra como Serra, Ricardo Sérgio (que foi diretor do Banco do Brasil) e outros tucanos de alta plumagem roubaram BILHÕES de dólares dos cofres públicos não só na época das privatizações. Os esquemas de corrupção deles vem de muito antes, segundo o livro, da época que Serra era ainda do PMDB.

Confesso que, mesmo sentindo total repúdio por Serra por achá-lo autoritário, mentiroso, psicopata até, nunca imaginei que ele fosse TÃO corrupto. Os esquemas que ele, seus familiares e sócios armaram para lavar dinheiro da corrupção são os mesmos usados por narcotraficantes e pela máfia italiana. É assustador isso!

Não estamos falando aqui de uma empresa tal que, querendo levar a melhor numa privatização, entrou na sala do diretor do Banco do Brasil e ofereceu a ele uma mala cheia de dinheiro para beneficiá-la. Não, os esquemas desse pessoal são coisa de gente que entrou naquilo para enriquecer ilicitamente de forma "profissional". É coisa meticulosamente planejada, feita por quem sabe do assunto e se envolveu com gente da pior espécie para levar tudo a cabo.

Qualquer pessoa minimamente inteligente e bem informada desconfiava que as privatizações feitas no governo FHC foram os maiores esquemas de corrupção da história do Brasil, porém ninguém tinha como provar isso. Até agora. O livro do Amaury comprova isso de forma incontestável.

Em momentos como esse sinto uma profunda tristeza por todos aqueles brasileiros que, ingênuos, mal informados ou guiados por um ódio irracional e cego às esquerdas (PT principalmente), votaram e votam em pessoas como Serra ou FHC. Agora está mais do que provado que são pessoas que não possuem o menor apreço pela coisa pública e que estão na política única e e exclusivamente para enriquecer às custas do dinheiro público. Por isso, merecem todo o nosso repúdio - e não apenas politicamente, mas como pessoas também. Se ao menos, mesmo com TODA essa corrupção revelada no livro do Amaury, tivessem feito algo de bom para o Brasil... mas nem isso. O governo de FHC foi um desastre para toda a população do país, principalmente a mais pobre, em todos os aspectos!

Outra coisa importante que está nas entrelinhas do livro é como a imprensa corporativa do Brasil (Veja, Globo, Folha, Estadão, etc) deve estar metida até o pescoço nesse lamaçal de corrupção, caso contrário teria divulgado tudo isso muito tempo antes. Se um mero jornalista, em menos de 10 anos, conseguiu levantar todas as informações contidas em "A Privataria Tucana" (que fala apenas de 10% de tudo que foi privatizado no país), imagine o que essa imprensa que tem à disposição um exército de jornalistas poderia ter feito! 1/10 do rigor em denunciar supostos esquemas de corrupção durante os 9 anos que a esquerda está no poder (90% deles, sabemos, meros factóides) já estaria de bom tamanho. É preciso ir mais fundo nessa relação entre os esquemas BILIONÁRIOS de corrupção dos tucanos e a imprensa corporativa do Brasil que é dominada por meia dúzia de famiglias. Não dá mais para viver num país onde uma mídia atua como uma verdadeira quadrilha para destruir reputações de seus inimigos políticos, ao mesmo tempo que defende com unhas e dentes criminosos cujas ações estão fartamente documentadas! É preciso dizer chega a isso de uma vez por todas!
Acho que é uma ilusão sonhar que um dia veremos esses mafiosos na cadeia, depois de terem devolvido tudo que roubaram dos cofres públicos. Até porque essa gente tem tentáculos em todas as esferas públicas, como afirmou o jornalista Amaury Ribeiro Jr., inclusive na Polícia Federal, no Judiciário e no Ministério Público. Porém, para mim serviria de consolo que essa corja toda fosse enterrada politicamente de uma vez por todas, desprezados até pelo mais empedernido odiador das esquerdas que tenha o mínimo de bom senso e incapazes de se elegerem sequer para síndicos de seus condomínios...

Por tudo isso, leiam o livro "A Privataria Tucana" (mas não esqueçam de comprar um saco de vômito para deixar por perto) e, por favor, disseminem seu conteúdo para o maior número de pessoas possível! O que essa quadrilha fez em termos de corrupção durante as privatizações do governo FHC é algo simplesmente enojante! Como bem diz o meu amigo Ricardo Melo, foi um verdadeiro saque ao patrimônio público nacional. Se cada um de nós, cidadãos de bem desse país, fizermos a nossa parte, muita coisa pode mudar. Acreditem!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Orlando Silva e José Serra

O que acontece com a grande imprensa deste país ?

Acho que os milhões de brasileiros antenados politicamente, tenham eles aspirações ou sentimentos políticos de esquerda ou de direita estão percebendo a situação delicadíssima em que se encontra José Serra.

Como nos casos dos ministros denunciados pela imprensa, Serra está sob fortes e gravíssimas acusações que envolvem desvios de milhões de dólares.

Os fatos, ao contrários dos que derrubaram os ministros são contundentes e extremamente constrangedores pois envolvem seus familiares.

Em situação muito menos grave do que a de Serra, o que fez Orlando Silva ?

Disponibilizou a quebra de seus sigilos bancários, fiscal, etc. Foi ao legislativo e deu todas as explicações que lhe foram solicitadas.

O que fez José Serra ?

Orlando Silva não teve trégua da grande imprensa. Mesmo tendo sido acusado por um policial corrupto com agora, já várias passagens pela cadeia.
Ainda assim, Orlando defendeu-se deu explicações, reiterou sua defesa.

O que fez José Serra ?

As denúncias contra Serra, o detalhamento assombroso do enriquecimento de sua filha, seu genro, seus sócios, seus tesoureiros de campanha agora são de conhecimento público.

Serra ofereceu o que em troca ?

Medo.

Arrogância.

Amaury Jr foi indiciado pela polícia federal.

Indiciado.

Ele não foi julgado. Não transitou em jugaldo que ele é culpado de nada.

É muito, muito, diferente.

Os fatos perseguem Serra agora. Perseguirão. Serra está na posição de Orlando Silva. Mas sua posição é muito pior. O que está em jogo é muito maior.

A dimensão da perda é devastadora.

O PSDB, FHC e Serra agora lutam, contra documentos públicos sintetizados, contra a desmoralização definitiva e histórica.

Mas a derrota é inevitável.


Coisas da corrupção.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Imprensa Fake

Esta semana o cidadão brasileiro teve mais uma grande decepção. Além de se decepcionar frequentemente com quase todos os ramos e representantes do poder constituído, desde os menos poderosos, como os policiais corruptos e o temerário poder de polícia aos mais graúdos como os magistrados que teceram a teia da corrupção corporativista intocável.

Não vou nem citar a roubalheira geral nas três esferas do poder executivo e legislativo, que estes, são de conhecimento geral e amplo.

Mas o que todos os brasileiros bem informados (e já são muitos) desconfiavam, ficou vergonhosamente escancarado este último fim de semana.

A imprensa brasileira é falsa, corrupta, ou na linguagem mais utilizada nas redes sociais hoje em dia, a imprensa brasileira é "Fake".

Muita gente ainda acreditava que todo o esforço oposicionista, investigativo, incisivamente moralista que a grande imprensa vinha desempenhando na eliminação e ataque aos ministros do governo Dilma eram fruto da atitude heróica de quem só quer o progresso do Brasil. De quem talvez queira ver a nação livre da corrupção.

Não, não era. Não é.

Após o vergonhoso boicote de todos os jornais e revistas da grande imprensa, de todos os comentaristas políticos nas redações e nos rádios ao importantíssimo trabalho investigativo presente no livro "Privataria Tucana", esta mesma imprensa que trucidou o ministro Orlando Silva por supostamente receber dinheiro na garagem pelo depoimento de um policial corrupto, ficou exposta. Desmoralizada.

Policiais, juízes, políticos... a imprensa brasileira...

Como criar os filhos neste labirinto corrompido em que se encontra o Brasil? Alguém dá uma luz ?

sábado, 10 de dezembro de 2011

Nassif Escancara

11 de dezembro de 2011 às 0:23
Luís Nassif: A reportagem investigativa da década
A reportagem investigativa da década

Enviado por luisnassif, sab, 10/12/2011 – 21:28

por Luís Nassif, em seu blog

Fui ontem à coletiva do repórter Amaury Ribeiro Jr, sobre o livro que lançou.

Minha curiosidade maior era avaliar seu conhecimento dos mecanismos do mercado financeiro e das estruturas de lavagem de dinheiro.

Amaury tem um jeito de delegado de polícia, fala alto, joga as ideias de uma forma meio atrapalhada – embora o livro seja surpreendentemente claro para a complexidade do tema. Mas conhece profundamente o assunto.

Na CPI dos Precatórios – que antecedeu a CPI do Banestado – passei um mês levando tiro de alguns colegas de Brasília ao desnudar as operações de esquenta-esfria dinheiro e a estratégia adotada por Paulo Maluf. Foi o primeiro episódio jornalístico a desvendar o submundo das relações políticas, mercado financeiro, crime organizado.

No começo entendi os tiros como ciumeira de colegas pela invasão do seu território por jornalista de fora. Depois, me dei conta que havia um esquema Maluf coordenando o espírito de manada, no qual embarcaram colegas sem conhecimento mais aprofundado do tema.

Minhas colunas estão no livro “O jornalismo dos anos 90”, mostrando como funcionavam as empresas offshore, o sistema de doleiros no Brasil, as operações esquenta-esfria na BMF e na Bovespa, as jogadas com títulos estaduais.

Repassei parte desse conhecimento ao meu amigo Walter Maierovitch, quando começou a estudar esse imbricamento mercado-crimes financeiros e, depois, na cerimônia de lançamento do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência).

Mesmo assim, persistiu a dicotomia na cobertura: jornalistas de mercado não entravam em temas policiais e jornalistas policiais não conheciam temas financeiros. E a Polícia Federal e o Ministério Público ainda tateavam esse caminho.

Aos poucos avançou-se nessa direção. A Sisbin significou um avanço extraordinário na luta contra o crime organizado. E, no jornalismo, Amaury Ribeiro Jr acabou sendo a melhor combinação de jornalismo policial com conhecimento de mercado.

Quem o ouve falar, meio guturalmente, não percebe, de imediato, sua argúcia e enorme conhecimento. Além de ter se tornado um especialista nas manobras em paraísos fiscais, nos esquemas de esquentamento de dinheiro, tem um enorme discernimento para entender as características de cada personagem envolvido na trama.

Mapeou um conjunto de personagens que atuam juntos desde os anos 90, girando em torno do poder e da influência de José Serra: Riolli, Preciado, Ricardo Sergio, Verônica Serra, seu marido Alexandre Burgeois. É uma ação continuada.

Entendeu bem como se montou o álibi Verônica Serra, uma mocinha estreante em Internet, naquele fim dos anos 90, com baixíssimo conhecimento sobre tendências, modelos de negócios, de repente transformada, por matérias plantadas, na mais bem sucedida executiva da Internet nacional. Criou-se um personagem com toque de Midas, em um terreno onde os valores são intangíveis (a Internet) para justificar seu processo de enriquecimento. Mas todo o dinheiro que produzia vinha do exterior, de empresas offshore.

Talvez o leitor leigo não entenda direito o significado desses esquemas offshore em paraísos fiscais. São utilizados para internalizar dinheiro de quem não quer que a origem seja rastreada. Nos anos 90, a grande década da corrupção corporativa, foram utilizados tanto por grandes corporações – como Citigroup, IBM – para operações de corrupção na América Latina (achando que com as offshores seriam blindadas em seus países), como por políticos para receber propinas, traficantes para esquentar recursos ilícitos.

Ou seja, não há NENHUMA probabilidade de que o dinheiro que entrou pelas contas de Verônica provenha de fontes legítimas, formalizadas, de negócios legais.

Ao mesmo tempo, Amaury mostra como esse tipo de atuação de Serra o levou a enveredar por terrenos muito mais pesados, os esquemas de arapongagem, os esquemas na Internet (o livro não chega a abordar), os assassinatos de reputação de adversários ou meros críticos. É um modo de operação bastante tipificado na literatura criminal.

No fundo, o grande pacto de 2005 com a mídia visou dois objetivos para Serra: um, que não alcançou, o de se tornar presidente da República; o outro, que conseguiu, a blindagem.

O comprometimento da velha mídia com ele foi tão amplo, orgânico, que ela acabou se enredando na própria armadilha. Não pode repercutir as denúncias de corrupção contra Serra porque afetaria sua própria credibilidade junto ao universo restrito de leitores que lêem jornais, mas não chegam ainda à Internet.

Ao juntar todas as peças do quebra-cabeças e acrescentar documentos relevantes, Amaury escancara a história recente do país. Fica claro porque os jornais embarcaram de cabeça na defesa de Daniel Dantas, Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram com seus próprios leitores. (Só não ficou claro porque o PT aceitou transformar a CPI do Banestado em pizza. Quais os nomes petistas que estavam envolvidos nas operações?)

E agora? Como justificar o enorme estardalhaço em torno do avião alugado do Lupi (independentemente dos demais vícios do personagem) e esconder o enriquecimento pessoal de um bi-candidato à presidência da República?

Mesmo não havendo repercussão na velha mídia, o estrago está feito.

Serra será gradativamente largado ao mar, como carga indesejada, aliás da mesma forma que está ocorrendo com os jornalistas que fizeram parte do seu esquema.